O que aprendi no bootcamp de Design Leadership
O que é Liderança em Design? O que comem? Onde vivem? Liderar traz em sua essência tirar as pessoas de sua zona de conforto, e foi exatamente o que aconteceu.
Este artigo resume um pouco do que vi no curso de Design Leadership da How Bootcamp, ministrado pelo Anderson Gomes e traz com ele, alguns tópicos importantes para quem deseja ser líder.
Uma das frases que mais me chamou atenção e que levo comigo até hoje é que "Para liderar o próximo, primeiro lidere você mesmo" e dessa forma iniciamos a nossa jornada inóspita e hostil de sair da tão sossegada zona de conforto.
Indiferente do setor que lidera, algumas habilidade são essenciais e não necessariamente estão dentro da alçada de conhecimentos de um designer. Estas habilidades são:
- Comunicar: saber passar a mensagem e garantir de que foi entendido;
- Ouvir e ser ouvido: escuta ativa e estar no momento presente.
Por que colocar um líder de design para liderar outros designers e não apenas outro "líder"?
Existem alguns atributos que facilitam o designer na hora de liderar outros designers, principalmente por conhecer e já ter vivenciado suas dores.
Para entrar nesse assunto com eficiência, temos que entender a diferença de liderar e gerenciar:
>> Gerenciar: manter as coisas sob controle, garantir que tudo ocorrerá conforme o planejado.
>> Liderar: gerar mudanças, transformar, ter responsabilidades sob o futuro.
E design, assim como liderar é promover mudanças. Logo, liderar não é opcional para o designer, e sim uma consequência, a qual em algum ponto de nossa jornada, teremos que enfrentar, seja por influenciar, engajar, motivar, direcionar, ensinar ou inspirar pessoas.
Por mais que você seja uma pessoa que passa as horas desenvolvendo com fones de ouvindo, focado apenas em seu monitor (confesso que já fui assim), em algum momento, sua hora vai chegar e você precisará apresentar projetos, negociar prazos, expor suas ideias, convencer pessoas, se você quiser promover mudanças ao ser redor.
Existem 6 pilares que orientam a jornada do designer. Eles são:
>> Empatia: Design não é centrado em si mesmo. É preciso se colocar no lugar do outro em primeiro lugar.
>> Imersão: ir ao contexto para pegar o máximo de informações reais, viver o problema real, para depois propor soluções e melhorias que de fato, tragam resultados.
>> Curiosidade: fazer perguntas "inocentes", sem vieses cognitivos, como se você fosse uma criança de 6 anos. Manter sempre a curiosidade para buscar entender o que está por trás das coisas.
>> Experimentação: aprender rápido com testes constantes, errar rápido para corrigir com mais agilidade, antes mesmo de linhas de códigos e esforços maiores.
>> Facilidade: comunicar claramente para as pessoas que são donas do problema, com foco na usabilidade e visão clara dos objetivos.
>> Escalabilidade: replicar o produto para o maior número de pessoas possíveis.
Por esses fundamentos já estarem presentes nas metodologias de Design, o profissional já tem um bom caminho andado em relação a outros líderes.
Tá, mas por onde começa ser um líder?
Quando você se torna um líder, principalmente se "cai de paraquedas", você entra em outro universo e precisa saber diversas coisas que não condizem com as habilidades primárias de design. Saber sobre métricas, sobre o budget, conseguir falar em público, inspirar pessoas, definir OKRs, etc.
Mas antes mesmo de entender sobre todos esses assuntos, você precisa se entender e se definir, pois liderança começa de dentro pra fora. E para isso, é necessário começar a questionar a si mesmo, tanto para a vida pessoal como profissional. Porque quero ser um líder? Porque trabalhar? O que liderar tem a ver com isso? Porque estamos no mundo? Qual o significado ou propósito de vida? Qual a relação entre a família, nação e o resto do mundo?
“Ou você tem uma estratégia ou será parte da estratégia de alguém” — Alvin Toffler
Então defina suas metas e objetivos profissionais para não fazer parte das metas e objetivos de alguém, e que muitas vezes você pode não gostar. Da mesma forma com as metodologias de Design, se você não definir qual metodologia é melhor para aquele determinado assunto, alguém que talvez nem entenda do processo vai definir por você.
E por fim, analise se sua visão de vida condiz com a sua visão profissional, pois se elas não se completam, nenhum trabalho irá servir.
Pra que fazer essas reflexões?
Definir o que queremos ser como líderes, só pode ser feito por nós mesmos. E o quanto antes fizermos isso, menor será a probabilidade de sermos definidos pelos propósitos de alguém no futuro.
Os questionamentos que fizemos no capítulo anterior, se basearam no livro Designing your Life, de Bill Burnett & Dave Evans.
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É um livro de carreira que por meio de seus métodos, nos auxiliam a encontrar nosso propósito profissional. Com um propósito bem definido, fica muito mais fácil analisar tarefas que fazem sentido ou que te desgastam e não trazem resultados positivos.
Praticamente um checklist de priorização de tarefas, e priorizar é também saber dizer não. Dizer "NÃO" ao que não te motiva, ao que suga tua energia e não te fará crescer. É difícil, mas devagarinho vamos aprendendo :D
Como eu me vejo? Como as pessoas me veem?
Liderança está muito ligado ao autoconhecimento, conhecer seus pontos fortes e fracos e também se isso condiz na forma em que as pessoas que convivem com você te avaliam.
Para isso, é necessário colher feedbacks constantes de pessoas que podem te ajudar a alcançar teus objetivos e potencializar tua carreira. É um caminho dolorido, nem todos os feedbacks serão positivos, essa é a hora que o ~usuário chora e a mãe não vê, mas acredite, isso irá te ajudar a crescer e não só no profissional, na vida pessoal também.
No bootcamp, fizemos dois tipos de avaliação, a primeira preenchemos na plataforma Miro qual era a nossa visão de nós mesmos e como achávamos que as pessoas nos viam:
A segunda dinâmica e tarefa de casa, foi desenvolver um formulário e compartilhar com nossa lista de contatos, para colher feedback de nossas habilidades e validar as respostas, se como as pessoas nos veem está coerente com o que achamos.
Receber feedbacks é um jeito rápido e prático de validar a sua postura perante as outras pessoas, mas nem sempre é fácil. Vamos ler palavras que nos machucam(já marca a terapia), outras que nos motivam, mas temos que ver como uma oportunidade de aprimorar e focar no resultado final.
O ideal é recebê-lo em um momento em que estamos bem e consigamos digerir as informações com sabedoria e sem frustrações, pois é uma excelente ferramenta para crescer e melhorar como líder.
Parte de liderar, é saber negociar e facilitar (além das outras infinitas habilidades)
Negociar é conseguir chegar em um consenso positivo normalmente entre duas partes.
"A coisa mais difícil em negociação é ter certeza de que deixou as emoções de lado e está lidando somente com fatos." — Howard Baker
Nossas emoções podem afetar nosso estado de espírito e muitas vezes nossas decisões, logo, entre em uma negociação já sabendo o que você pode perder, o que pode ser negociável e o que não quer abrir mão.
Um dos livros indicados e que também norteou a dinâmica, na qual deveríamos descobrir o nosso estilo de negociação e nosso motivador, foi "Negocie qualquer coisa com qualquer pessoa" do Eduardo Ferraz.
Com esse resultado, conseguimos entender nossos pontos fortes e fracos na hora de negociar e buscar técnicas que podem aprimorar e potencializar os resultados positivos. Por exemplo, saber quais são os nossos trunfos:
>> Expertise: você é especialista no assunto.
>> Credibilidade: Você é conhecido por fazer isso.
>> Poder: Você possui fama ou influência.
>> Talento: Possui uma habilidade especial inigualável.
>> Padrões de mercado: Sua proposta é melhor que os benchmarks.
Facilitar é gerar um consenso envolvendo um grupo de decisores por meio de dinâmicas. Para designers, saber facilitar é essencial pois seu papel é entender sistemicamente o problema e olhar através de diversos pontos de vista: outros setores, clientes, empresa, etc.
Defina um objetivo claro para sua dinâmica, o facilitador está ali não para ter opiniões e sim estimular a comunicação entre os participantes, manter a cadência de engajamento na dinâmica, passar credibilidade para a equipe de que o método funciona e cuidado, não se envolva em conflitos, se não você se torna um participante.
Existem diversas metodologias de facilitação que poderá usar de acordo com os objetivos, mas uma das premissas necessárias é saber e entender o problema a ser resolvido.
No final do dia, concluo que liderança, principalmente em design, é sair da área de conforto, pensar no todo, confiar no teu time, saber negociar e autoconhecimento. Mas nunca estaremos prontos para essa jornada, sempre estaremos em constante aprendizado.
Não seja designer, estude design e aprenda coisas fora desse contexto como facilitação, negociação, pessoas, comunicação, carreira, resolução de conflitos, gestão de tempo, métricas, cultura, etc.
E o principal, aprimore suas habilidades como líder e coloque-as em prática hoje.
Finalizo com a frase do John Maeda, também citada no bootcamp e faz parte de como eu penso, que quando me sinto confortável tem algo errado, pois ou eu evoluo ou estou perdendo meu tempo aos poucos.
“Frequently I have to shock my system, to feel that I am still alive” — John Maeda
Tradução livre: "Frequentemente eu tenho que chocar o meu sistema para sentir que ainda estou vivo.”